quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Os processos de escolha, fala e silêncio: Relação de poder entre opressor e oprimido [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores: Bervely Oliveira, Elson Said, Erika Santos, João Pedro Gouvêa

     Os museus do Ocidente têm um passado mais ou menos comum. A maioria deles teve início com o que se denominou “colecionismo”, um agrupamento de objetos com características semelhantes, organizados de diferentes maneiras, por diferentes pessoas, geralmente aquelas que tinham melhores condições econômicas para adquiri- los.

     Acompanhar a trajetória das coleções é um ponto central para a compreensão de como colecionadores apropriaram-se de coisas exóticas, fabulosas, fatos e significados de outros. Logo, pode-se dizer que a preposição estrutural que emerge neste paradigma é, então, a de domínio. Domínio da Natureza, do Passado e do Outro.

     Segundo o ICOM “O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”.

     Por sua natureza própria o conceito de museu está diretamente atrelado ao universo do conhecimento, pois se não tiverem como referência o mesmo, tratar-se-á de mera doutrinação.

     Os museus expressam determinada percepção do mundo e comunicam mensagens. Portanto, evocam a idéia de um passado que pode exercer ação concreta no presente, com base em uma determinada linguagem. A compreensão em relação ao (re)conhecimento de um país, da sua história, das suas tradições, da sua população, do seu território, do seu patrimônio, das suas crenças e das suas sensibilidades fazem parte de uma concepção simbólica.



     Portanto, os sentidos e valores atribuídos aos objetos sejam eles cognitivos, afetivos, estéticos e/ou pragmáticos não são sentidos e valores das coisas em si, mas da sociedade que os gera, conserva, e detém o monopólio dos veículos de comunicação para sua circulação e consumo. Trazendo implicações sociais como a estetização do social e a transformação da História em espetáculo.

     O universo material em conjunto com toda sua significação simbólica tem a existência marcada pela necessidade de dar conta da apreensão sensorial. Temos desse modo seu valor de uso convertido em valor cognitivo. Ou seja, são mobilizados para afirmação ou reforço de identidades, transmutando-se num ícone cultural, de valor, agora, puramente emblemático (sujeitos a permanente transformação).

     O discurso que constitui o museu é uma representação construída. Dentro disto a memória é um importante fator, pois, é a partir dos testemunhos que as narrativas serão formuladas. Teremos, portanto, discursos específicos para um recorte do real. Há de se ter cuidado então com a criação interpretativa e a manipulação ideológica, tendo em conta que as memórias são atravessadas por sensações e afetos. A cada novo resquício de memória agregam-se novas emoções.




Referências:

BELLAIGUE, Mathilde. Memória, Espaço, Tempo, Poder. MUSEOLOGIA E PATRIMÔNIO - v.2 n.2 - jul/dez de 2009 http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus

CLIFFORD, James. Quatro museus da costa norocidental: reflexões de viagem. In: Itinerarios transculturales.Barcelona: Gedisa, 1999.

DURAND, Jean-Yves. Este obscuro objecto do desejo etnográfico: o museu. in: Etnográfica, 2 (11). Revista do Centro de Estudos de Antropologia. Lisboa: CEAS / ISCTE. pp 373-385.

GOLDSTEIN, Ilana. Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly.Horiz.antropol. [online]. 2008, vol.14, n.29 [cited 2013-08-27], pp. 279-314.



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