sábado, 26 de agosto de 2017

ARTE E LOUCURA [Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus 2017]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

METODOLOGIA DE PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS - MUSEOLOGIA
PROFESSOR: LUIZ HENRIQUE GARCIA
Alunas: ALÍCIA FEITOZA – LUÍSA GUIMARÃES – VANESSA TORRES

ARTE E LOUCURA

Para os levantamentos de fontes a respeito da pesquisa com o tema que trata sobre a relação entre a arte e loucura, foi realizado um processo mais íntimo ao real cenário do qual estamos lidando. Por existir poucas pesquisas documentando a produção artística dos doentes mentais, foi necessário um contato direto com instituições relevantes que que carregam a bagagem histórica sobre o processo de transição entre a antiga forma de tratar os loucos dentro das instituições psiquiátricas, até o dado momento.

O museu da Loucura em Barbacena foi inaugurado no ano de 1996 no torreão do complexo de prédios que constituem o atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. A ideia de se criar um museu de psiquiatria, teve início na ocasião do III Congresso Mineiro de Psiquiatria em 1979, onde ocorreu uma exposição de fotos tiradas no período mais crítico do então Hospital Colônia. Entretanto, o projeto só se concretizou após o fortalecimento dos debates acerca da luta antimanicomial entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990. A instituição se propõe a informar e a convidar os visitantes a refletirem sobre temas como a: reforma psiquiátrica, a trajetória da luta antimanicomial e os tratamentos substitutivos em Barbacena. Para isso, utiliza-se de uma narrativa superficial focada na descrição e não na análise, apoiada em uma linha do tempo e um discurso parcial e reducionista (no sentido de limitar as maneiras de interpretação) do mediador que apenas enfatizava e justificava o discurso raso do museu. No que se refere a arte, o museu dedica uma pequena sala a trabalhos produzidos pelos antigos pacientes do hospital-colônia e atuais moradores das residências terapêuticas. onde mais uma vez o que prevalece é a narrativa tradicional sob o ponto de vista institucional; em detrimento a uma pesquisa de microhistória ou história oral, por exemplo, que mostrasse, sob a perspectiva do portador de sofrimento mental, o verdadeiro impacto que essas transformações (reforma psiquiátrica, mudanças no tratamento, inserção da arte como tratamento) ocasionaram na realidade dessas pessoas, sobretudo, no que se refere a qualidade de vida delas.

Na Fhemig fomos recebidas pelo diretor Marco Antônio Rezende, que nos levou para conhecer todo
o espaço em que consiste o conjunto arquitetônico e paisagístico (tombado pelo patrimônio histórico) que compõe o instituto Raul Soares e no decorrer da visita, nos deu todo o panorama da instituição que foi inaugurada no ano de 1924 com o propósito de resolver o problema da superlotação do Hospital Colônia de Barbacena. A princípio replicava os mesmos “métodos de tratamento” (isolamento, coerção e violência) do hospital-colônia, podemos perceber através da arquitetura que segue o modelo panótico – que visa o controle do corpo. E também através do acervo do centro de memória que integra a biblioteca com fotografias e equipamentos utilizados na época que antecede as discussões sobre a reforma psiquiátrica. (...) Em suma mesmo o Instituto Raul Soares não sendo um museu propriamente dito e nem mesmo o diretor Marco Antônio, não sendo um mediador, (ainda que tenha cumprido este papel nos levando para conhecer todo o espaço em que compõe o instituto). Acreditamos que a visita a FHEMIG, tenha nos fornecido muito mais subsídios para a pesquisa e para reflexão sobre os temas envolvidos pois através dela podemos perceber na prática como os espaços físicos foram se transformando e a forma de se apropriar desses espaços também foram se transformando a medida em que os tratamentos para a loucura também foram se modificando. e principalmente como a inclusão da arte no tratamento para a loucura foi essencial no decorrer desse processo.

Baseando-se na ideia de que o objeto da história é por natureza o homem, para que possivelmente a pesquisa chegasse em uma conclusão, foi realizada uma visita ao CERSAM de Venda Nova e no Centro de Convivência Centro-sul de Belo Horizonte. Apesar da carga que as idas ao Museu de Barbacena e a FHEMIG agregaram a pesquisa, isso foi apenas um passo inicial na caminhada da compreensão da Arte e Loucura. (...) A visita ao CERSAM aconteceu dado a um convite feito pela Professora Maria Stella Brandão Goulart, do departamento de Psicologia na Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais aos alunos participantes na execução da exposição curricular do curso de Museologia da UFMG. (...) Essa visita permitiu que todo o cenário antimanicomial compreendido através de documentos fosse vivenciado de uma maneira mais próxima e humana. Causou uma transformação na percepção dos fatos, possibilitando uma aproximação entre nós pesquisadoras e os inúmeros porquês, representados pelos ditos doentes mentais, através da arte considerada louca. Foi possível analisar as marcas do passado que afetam esse presente, compreendendo a força que os tratamentos substitutivos têm no processo de apoio ao cidadão que sofre de transtorno mental. Os tratamentos realizados através de encontros como comemorações, encontros artísticos, jogos e esportes buscam a estabilização dos quadros clínicos, a reconstrução da vida pessoal, o suporte necessário aos familiares e o convívio social. Tal experiência consentiu que realmente os ideais antimanicomiais estão no trilho mas falta um pouco para que caminhem junto com o trem. O que queremos dizer com isso é que infelizmente nas informações oficiais e institucionais constam o que não acontece na realidade com as atividades financeiras destinadas a saúde mental. A falta de dinheiro é muita e dessa forma não existe possibilidade de expansão no setor e muitas vezes de se manter. (...) O bonito de se concluir é que mesmo com as dificuldades institucionais e financeiras existes profissionais e voluntários que se unem a favor da inserção da arte na vida dessas pessoas tão carentes de atenção na vida social, que frequentam os Centros de Referência em Saúde Mental. Participar de um singelo momento da vida cotidiana daquelas pessoas permitiu o estreitamento entre a pesquisa e o seu objeto nesse momento. Compreender esse cenário nos permitiu uma nova visão do homem inserido nesse ambiente.
(...)
Olhar a fabricação de arte plástica como se fosse apenas um sintoma de doença mental, acaba limitando-a na procura por análises de doenças. Assim sendo, reduzi-la a artepsicótica é recusar a essas criações o código de arte e garantir o sinal de doença mental. Podemos aplicar o conceito de arte bruta, que nomeia as obras que são criadas por sujeitos que não se localizam no complexo do mercado da arte, indivíduos sem formação artística, afastados de atmosferas sofisticadas e intelectuais, nas obras produzidas no Centro de Convivência Centro Sul. Apesar disso é preciso entender que definir a arte nesses conceitos refreia outros aceitáveis sentidos que ela pode ter. Aqui se observa que o risco é sair de um conceito prévio de redução à arte num distúrbio, para uma redução que cria outra classe de arte formada por pessoas que se encontram insanas. O desenvolvimento artístico e o ímpeto para a criação não dependem de leis estagnadas, classe social, ou mesmo mental. A ambição, o anseio da arte pode aparecer em qualquer individuo. Normalidade e anormalidade psíquica são termos comuns para a ciência, porém no palco da arte, eles perdem qualquer superioridade significativa. Apesar da arte desenvolvida em ambientes como o Centro de Convivência Centro Sul poder ter uma semelhança com o ideal de arte bruta, no sentido das pessoas que a executam não terem uma formação artística, o lugar na qual ela é produzida e os atravessamentos que ali se instalam, refletem uma arte cuja origem se dá de forma marginal. Uma arte limítrofe, que trata do caráter de obstinação que ela assume frente ao saber psiquiátrico padronizador. Ver o sujeito apontado como louco, mas que é apto a criar, não deveria nos levar a um esforço de definição de biografia ou caça de traços psicológicos. Entendemos, portanto, que a criação se dá na administração do corpo e das forças que o cruzam. Usando como base Foucault para desenvolver o artigo, temos a oportunidade de apontar o início do processo de luta antimanicomial, como a origem de um novo método a respeito do tratamento dos indivíduos em sofrimento mental, após observar a falta de resultado das técnicas de intervenções era visível que a forma como a situação estava sendo encarada não trazia benefícios para as pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas vezes causando transtornos ainda maiores, situação que culminou numa nova cultura de tratamento, visando humanizar os pacientes, trazendo-os para o convívio da sociedade e da família e trabalhando com eles formas de expressões artísticas, para, mais do que apenas analisar sua condição mental, deixá-lo a vontade para se comunicar com o mundo ao seu redor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRABANT, Georges Philippe. Chaves da psicanálise. Zahar Editores. Rio de Janeiro:1973.
ESTEVAM, Carlos. Freud. José Alvaro Editor. Rio de Janeiro: 1968.
FRANCO, Sergio de Gouvêa. Hermenêutica e psicanálise na obra de Paul Ricoeur. Edições
Loyola. São Paulo:1995.
FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Imago Editora. 2016.

A Loucura na Arte – As Belas Artes da Medicina – Disponível em:
Currículo Lattes – Armando José China Bezerra – Disponível em:
Biografia de Edvard Munch – Disponível em:
Pintor Flamengo – Peter Paul Rubens – Disponível em:
A Arte e a Loucura: uma aproximação histórica – Camila Zoschke – Disponível em:
Organização do Evento e Programação do V Fórum de Pesquisa Científica em Arte – Disponível
em:
Introdução dos ANAIS do V Fórum de Pesquisa Científica em Arte – Disponível em:

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