sábado, 26 de agosto de 2017

A loucura da ditadura [Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus 2017]


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE CIENCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE MUSEOLOGIA

DISCIPLINA
METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS

PROFESSOR
- Luiz Henrique Assis Garcia -

AUTORES 
AMANDA MARZANO - BRUNO DINIZ – PAULINE SILVA
LUÍSA LOURENÇO – BIANCA RIBEIRO
“O Uso dos Hospitais Psiquiátricos como aparelho repressor do Estado durante a Ditadura Militar.”


Fazendo uso da tradicional história acontecimental e narrativa, contextualizaremos a sombria realidade psiquiátrica brasileira, em um período de tempo que “coincide” com a vigência da Ditadura Militar no país. Vamos realizar uma elucidação a cerca da relação da Ditadura Militar Brasileira e as Instituições Manicomiais, lugares de exclusão social, isolamento e degradação humana, que tinham em seu regime interno o “comprometimento em manter a ordem social”. 

Entretanto, pouco se discute sobre como o regime de exceção não apenas foi conivente com horrores cometidos nesse período da História do Brasil, que ficou conhecido como Holocausto Brasileiro, mais do que isso, fez uso da deplorável situação dos hospitais psiquiátricos em prol dos seus objetivos. 

Dando foco aos presos políticos mais conhecidos e suas histórias, citaremos alguns casos e suas experiências. Como objeto de estudo também, nossa pesquisa pretende fazer com que o púbico tome conhecimento da relação entre os hospícios e os presos políticos, pois esse assunto ainda é tratado de forma superficial. 

Nossa pesquisa visa dar atenção ao fato de que INÚMEROS PRESOS POLÍTICOS NO BRASIL FORAM ENVIADOS PARA OS ANTIGOS MANICÔMIOS, MESMO SEM DIAGNÓSTICO ALGUM DE DOENÇAS MENTAIS, justamente pelo fato de que nestas instituições as pessoas eram literalmente trancafiadas e esquecidas, perdendo seu lugar na sociedade, além de muitas vezes serem verdadeiras cobaias de tratamentos com remédios, choques e cirurgias. 

Esse recurso de afastar opositores políticos através de sua internação compulsória foi muito utilizado pela Ditadura Militar de acordo com o que pudemos verificar em nossas leituras preliminares, como por exemplo: na Casa de Saúde Doutor Eiras que ficou conhecida como Paracambi, uma prisão política disfarçada de hospital. Um “armazém” em Paracambi, a 90 quilômetros do Rio de Janeiro, onde se confinavam pacientes mentais de todo o País. Assim era a Casa de Saúde Doutor Eiras [imagem 2], o maior manicômio privado da América Latina, na memória do psiquiatra Ricardo Vaz, funcionário da instituição. Homens e mulheres sedados com medicamentos passavam o dia amarrados a argolas de ferro. Era a versão fluminense dos campos de concentração psiquiátricos da repressão, entre os quais se destacavam os hospitais do Juquery [imagem 4], em São Paulo e o Colônia, de Barbacena [imagem 3]. 


No artigo “A história desvelada no Juquery: assistência psiquiátrica intramuros na ditadura cívico-militar”, Sakaguchi e Marcolan realizaram entrevistas com ex-funcionários do chamado Hospício do Juquery, fundado em 1898 no município de Franco da Rocha, São Paulo. 

Para eles, a política vigente entre 1964 e 1985 conferiu legitimidade à exclusão dos indivíduos ou setores sociais não totalmente enquadráveis nos dispositivos penais. 

Os governos militares consolidaram a articulação entre internação asilar e privatização da assistência, com a crescente contratação de leitos e clínicas conveniadas, que rapidamente cresceram para atender a demanda. Houve incrível aumento das internações e o número de internos que era de 7.099 em 1957 atinge 14.438 internos em 1968.


Em 2013, a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo afirmou em suas conclusões que seus levantamentos “demonstraram” sobejamente, que essas instituições e seus profissionais foram historicamente usados no Brasil como instrumentos e agentes de poder e sujeição, seja por motivos políticos ou não. [...] (Sakaguchi e Marcolan, 2016)


Ao final desse projeto, fomos capazes de constatar e analisar que, embora o tema abordado não seja recente, o objeto de estudo provou-se ser “inédito”, onde pouco foi encontrado. Esta pesquisa pode ser tratada como o pioneira em um novo campo do conhecimento, cheio de possibilidades de estudo acadêmico. 

Muito ainda precisa ser feito para reparar os danos causados por esse período deplorável da história do país, pois essa mancha ainda está encrustada nas vidas de muitas pessoas, trazendo consigo marcas físicas e psicológicas em seu corpo, pessoas que lutaram pelo direito à liberdade e o bem comum da nação, almejando um futuro melhor para si e para seus compatriotas. 

Há muitos documentos que ainda encontram-se protegidos nas mãos militares, outros se perderam com o tempo. Somente quando o assunto não for mais tratado como tabu e a verdade trazida à tona é que seremos capazes de realizar uma pesquisa mais profunda e minuciosa.

Referências:

Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. Ditadura e Saúde Mental. https://www.cartacapital.com.br/sociedade/redemocratizacao-incompleta-perpetua-desigualdades-no-brasil-diz-relatorio-573.html/ditadura-e-saude-mental.pdf-5924.html. Acessado em: 01/05/2017.

SAKAGUCHI, Douglas Sherer; MARCOLAN, João Fernando. A história desvelada no Juquery: assistência psiquiátrica intramuros na ditadura cívico-militar:
http://www.scielo.br/pdf/ape/v29n4/1982-0194-ape-29-04-0476.pdf . Acessado em: 01/05/2017.

Para ouvir a loucura:
http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/Para%20ouvir%20a%20loucura%20o%20sil%C3%AAncio%20e%20a%20manipula%C3%A7%C3%A3o%20na%20Ditadura%20Militar%20(1964%20%E2%80%93%201985).pdf. Acessado em: 01/05/17
Coletivo Virtual, Os Amigos de 68 - Reportagem: Correio do Brasil, 2014.


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