sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Passado-presente: ecomuseus e discussões contemporâneas [Tipologia 2015]



Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG
Escola de Ciência da Informação
Curso de Museologia
Disciplina: Tipologia de Museus - 2015/2
Professor: Luiz Henrique Assis Garcia

Alunos: Daniel Xavier, Janderson Rosa, Pedro Krettli, Vinicius Santos


 

“(...) o museu normal, qualquer que seja sua definição, é feito com as coisas; o museu comunitário é feito com as pessoas” (VARINE, 2005).





https://ecomuseuribeirao.files.wordpress.com/2011/07/fotos-nereu-0031.jpg


Na esteira de grandes questionamentos e embates dentro e fora dos museus na segunda metade do século XX surgiu a Nova Museologia, tendo no Ecomuseu a força das experiências em diferentes contextos para o desenvolvimento de uma museologia voltado ao homem e suas múltiplas realidades. A homogeneização não estava mais em pauta, mas sim a inovação e a criatividade, frente às insatisfações geradas por um museu de poucos e que silenciava muitos. Para ver os conceitos base dos ecomuseus e alguns exemplos aqui no blog, veja UMA NOVA MUSEOLOGIA: Os Ecomuseus e Ecomuseus: Patrimônio a serviço da sociedade.

O ecomuseu expande os limites da tradicional relação objeto-museu para comunidade-museu, abrindo-se para o debate das contradições e lutas que antes não eram colocadas. A relação passa a ser passado-presente, pois as questões do “hoje” trazem a necessidade de repensar o passado, sendo este não mais algo fechado em si mesmo que é dado a ver, mas sim como algo que pode ser repensado constantemente sob a luz da atualidade. Segundo afirma Mario Chagas,

O diferencial, neste caso, não está no reconhecimento do poder da memória, mas sim na colocação desse poder ao serviço do desenvolvimento social, bem como na compreensão teórica e no exercício prático da apropriação da memória e do seu uso como ferramenta de intervenção social. (2000, p.14)

A partir de uma visão mais voltada às diferenças, surgem ações mais envolvidas com seus contextos e que para além da comunicação para o público, o museu passa a voltar-se para seu entorno.


Projeto Descartógrafos em que foram produzidas cartografias participativas, criativas e afetivas, com população da região sul de Curitiba. Fonte: https://jardinagemterritorialidade.wordpress.com/newton-goto/

 




Cuauhtémoc Camarena Ocampo e Teresa Morales Lersch, colocam as mudanças proporcionadas por esse fenômeno chamado Ecomuseu:


El museo así se convierte em um instrumento para enfrentar el cambio. A través del museo la comunidad busca conservar La posesión de elementos de su patrimônio, por ejemplo El arqueológico, y de esta manera enfrentar el proceso de expropiación. Busca a La vez ofrecer um testimonio de los câmbios que han habido, muchas veces a través de la representación de un pasado o de conocimientos tradicionales que son fuente de orgullo. Busca abrir un contacto com otras personas, instituciones y comunidades, a través de um espacio donde puede presentarse em sus propios términos. Busca valorar su propia experiência, interpretarse a si misma, y así tener más elementos de juicio sobre los caminos que tiene hacia el futuro. Así, el museo se convierte em herramienta de desarrollo y de conservación dentro de la transformación. (OCAMPO; LERSCH, 2002, p. 132-133).







DEBATES

Para além da transformadora experiência dos ecomuseus, alguns debates dentro da museologia colocam questões que devem ser pensadas para que estes não entrem em processo de desgaste. Teresa C. Scheiner (2012) coloca algumas situações que os ecomuseus podem passar a longo prazo:

- se institucionalizam, adquirindo características próximas aos dos museus tradicionais, com lideranças assumindo para si o norte das ações destes museus;
- se compartimentam, seguindo a mesma lógica acima, deixando-se as escolhas feitas em grupo de lado e abrangendo somente parte das discussões da comunidade;
- se autoconsumem, fechando-se em si mesmos e não utilizando sua potente fonte de debates para ações reais;
- se extinguem, seja por falta de lideranças ao não conseguir se atualizar frente às novas questões do grupo, ou na dificuldade de fazer com que a geração mais jovem aproprie-se das questões do grupo.

Essas reflexões são importantes para não perder as excelentes ferramentas proporcionadas pela Nova Museologia, a de transformação social, de fuga da indústria cultural, partindo para um museu dinâmico e que sirva como espaço para reflexão.

Os museus tradicionais podem também utilizar-se de bases teóricas dos Ecomuseus para atualizarem-se, através de ações e discussões com seu entorno, um claro discurso que possibilite enxergar o “local de fala”, proporcionar a reflexão sobre verdades fechadas, inquestionáveis. Mas enquanto isso não é uma realidade facilmente encontrada, os ecomuseus percorrem seu caminho descobrindo cada vez novas possibilidades e permitindo à museologia a revisão de seus conceitos.



Museu de Território Caminhos Drummondianos. Fonte: http://www.fccda.mg.gov.br/40festival/index.php/component/content/article/2-uncategorised/6-dicas-turisticas


REFERÊNCIAS

BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995.

BRULON, B. Entendendo o Ecomuseu: uma nova forma de pensar a museologia. Revista eletrônica Jovem Museologia: estudos sobre museus, museologia e patrimônio. Rio de Janeiro, n. 2, 2006. Disponível em: <http://www.unirio.br/jovemmuseologia/documentos/2/artigobruno.pdf>.

CHAGAS, Mario. Memória e Poder: Contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus. II Encontro Internacional de Ecomuseus. Santa Cruz. p.12-19. 2000.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. O porvir do passado. Culturas híbridas. São Paulo: Editora USP, 1997.

OCAMPO, Cuauhtémoc Camarena; LERSCH, Teresa Morales. Los museos comunitários como una estratégia de desarrollo y conservación. In: POSSAMAI, Zita Rosane; ORTIZ, Vitor. Cidade e memória na globalização. Porto Alegre: Unidade Editorial da Secretaria Municipal da Cultura, 2002. p. 131-140.

RIVIERE, Georges Henri. La museologia: curso de museologia / textos y testimonios. Madrid: Akal, 1993 533 p.

SCHEINER, Tereza Cristina. Repensando o Museu Integral: do conceito às práticas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 7, n. 1, p. 15-30, jan.-abr. 2012.
 

VARINE, Hugues de. O Ecomuseu. Ciências e Letras: Revista da Faculdade Porto Alegrense de Educação, Ciências e Letras, Porto Alegre , n. 27, p.61-90, jan. 2000.

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