segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Necromuseologia? O turismo da desolação

Impossível ficar incólume à constatação de que o mercado se apropria de toda forma de tragédia e que as pessoas se dispõe a explorar o sofrimento dos outros, e ainda outras se dispõe a consumi-lo. O profissional de museologia desse século precisa ser capaz de participar ativamente desse debate, manter os compromissos éticos e promover a reflexão crítica sobre um fenômeno como esse. É preciso saber onde está o limite entre o trabalho de memória que se propõe a ampliar nossa compreensão sobre a tragédia humana e negócio necrófilo que quer capitalizar sobre a desgraça alheia.


"(...) Fez da busca por uma resposta o projeto fotográfico que lhe consumiu seis anos de labuta (2008-14) e ao qual deu o título de Turismo da desolação. Ou, na versão em inglês, Eu estive aqui. O Les Rencontres de La Photographie, o prestigioso festival de Arles cuja edição de 2015 se encerra este mês, dedicou uma de suas 35 mostras a esse trabalho. O evento de dois meses de duração e que contou com um apaixonado público de 85 mil visitantes não poderia ter escolhido tema mais oportuno. E que estava maduro para ser retratado.
Antes de partir a campo para a longa empreitada, Tézenas foi procurar o professor J. J. Lennon na Universidade de Glasgow. Criador do termo dark tourism, ou turismo mórbido, que há uma década designa a indústria de roteiros sombrios, Lennon o orientou na elaboração de um protocolo rígido e coerente para o projeto.
 A ideia, explicou ao Le Monde, era mostrar como a História está sendo oferecida aos não especialistas. Explorar o hiato entre a gravidade dos fatos ocorridos e a realidade trivial da atividade turística. O confronto irreconciliável, num mesmo espaço, entre o horror testemunhado por quem ali morreu e o cotidiano corriqueiro dos vivos munidos de tablets, guarda-chuvas e lanchinhos. “E se, sob o pretexto da memória, não estamos simplesmente na presença de um mercado da barbárie?”, pergunta o autor na introdução de Turismo da desolação, publicado em 2014." Matéria completa em ZUM, aqui

Ambroise Tézenas, tour pelas ruínas deixadas por um terremoto na região de Wenchuan, província de Sichuan, China, da série “Eu estive aqui/Turismo da desolação”.

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