sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Procure conhecimento, meu filho

O porteiro José Carlos da Silva, 52 anos, costuma repetir o mesmo programa nos dias de folga. Pega o metrô na rua da Consolação, desce na estação da Luz e adentra o seu paraíso: a Pinacoteca do Estado de São Paulo.
"Gosto de passar o dia inteiro na Pinacoteca admirando a coleção do Almeida Júnior. Sou apaixonado por arte e louco por Caravaggio", diz. "Vou mais a museus e bibliotecas do que ao cinema, porque é de graça."

Uma história singular, mas que sugere várias reflexões interessantes, inclusive sobre os museus e seus públicos. Sempre acreditei que não se pode nivelar por baixo a linguagem e os conteúdos de uma exposição, e que ela deve oferecer justamente o estímulo para a busca do conhecimento. A história do José Carlos, ainda que só dele, diz muito sobre quão variado e fora do esperado pode ser o público que frequenta uma instituição museológica. É preciso aprender com ele, e estar à postos para oferecer mais possibilidades de estudo. Louvo a oferta de bolsa feita pelo MASP: "Um ano inteiro estudando arte, melhor ano da minha vida". Este público interessado, sedento pelo conhecimento, mas isolado dos museus por uma série de barreiras visíveis e invisíveis pode estar logo ali, no entorno mesmo.
Uma discussão que costumo propor em disciplinas como Função Social dos Museus e Museu e Cidade.Dentre tantas leituras indicadas eu destaco o texto de  Ana Rosas Mantecón. Usos y desusos del patrimonio cultural: retos para la inclusión social en la ciudad de México, publicada nos sempre bem cuidados Anais do Museu Paulista. Alguns trechos que destaco:

"La sacralización y monumentalización del patrimonio imponen barreras para que la población pueda apropiárselos en su vida cotidiana y están en la base de procesos de exclusión social"
[...] el reto no es aumentar audiencias, sino acrecentar la comprensión de los mecanismos de exclusión y las fuerzas actuantes en la institución y en el campo cultural, con el fin de poder intervenir en ellos; entablar diálogos cada vez más abiertos con sectores interesados y participantes y, de acuerdo con ello, de este modo brindar una gama variada y compleja de servicios adecuados, en relación con las colecciones u objetivos del museo y con las características socioculturales de los públicos efectivos y potenciales. El reto es que la relación museo-sociedad sea el verdadero soporte y fuerza de la institución.[...]
No se trata pues de simplificar o espectacularizar los recursos useográficos para hacer más rentable la institución, sino de atraer y atender a la mayor diversidad posible de públicos, reconociendo que el objetivo principal es el combate a la inequidad en el acceso a la cultura. [leia o texto completo]



Néstor García Canclini e Ana Rosas Mantecón

Nenhum comentário:

Postar um comentário