sábado, 13 de agosto de 2016

Diversas musas: As estátuas também morrem (1953)

Encontrei esse documentário/ensaio enquanto pesquisava por um curta sobre o qual havia lido. Imediatamente percebi que era material de primeira, pela qualidade do trabalho de direção, fotografia, texto e pela temática. Certamente um precioso acréscimo para instigar as discussões sobre museus em geral e museus etnográficos em particular no âmbito da disciplina "Tipologia de Museus", este semestre na UFMG. Acrescentei alguns trechos de boas resenhas para contextualizar um pouco o material.


"Este raro documentário de Resnais e Marker é um ensaio critico sobre as relações entre a cultura ocidental e a africana. Não possui diálogos, apenas uma narração em off, sobre três fontes distintas, imagens de arquivo produzidas pelos filmes de propaganda colonial na África, imagens de arte africana realizadas pelos autores nos principais museus da Europa e imagens sobre o negro na diáspora. (...) O filme pode ser lido segundo nosso entender sobre dois modos principais: O primeiro seria a apreciação critica das imagens, ou seja, por se tratar de um ensaio sobre arte, o filme possibilita ao espectador uma discussão em torno da própria arte africana em seus diversos contextos. Por exemplo, na sociedade de origem e na vitrine do museu, da criação artística à fabricação industrial e etc. Também possibilita vislumbrar alguns trechos de filmes de propaganda do colonialismo, raríssimos hoje em dia por serem demasiadamente agressivos ao olhar contemporâneo. A segunda possibilidade seria a de discutir o texto da narração que é montado sobre as imagens, que possui ainda hoje uma extraordinária força critica e que viabiliza um olhar direto sobre o pensamento pan-africanista da década de cinqüenta no tocante ao colonialismo, o eurocentrismo, o racismo e o papel do afro-descendente na diáspora africana e na contra-cultura contemporânea."
Rafael Galante


"O filme As estátuas também morrem [Les statues meurent aussi], de Alain Resnais, Chris Marker e Ghislain Cocquet é fruto da encomenda ao primeiro dos três cineastas, por parte da revista Présence Africaine, de um filme sobre a dita “arte negra”. A Présence Africaine, fundada, em Paris, em 1947, afirmou uma geração de novos escritores africanos, entre os quais Aimé Césaire e Léopold Senghor, que seriam autores decisivos da segunda metade do século XX. (...) Uma das ideias-mestras do filme a realizar era esta: o escândalo que é o simples facto da arte africana não estar, à época, representada no Museu do Louvre (onde as grandes tradições artísticas não-ocidentais foram incluídas), mas no Museu do Homem. Inicialmente intitulado “L’art nègre”, o projecto chamar-se-ia finalmente “Les statues meurent aussi” e resulta num documentário que, mais do que sobre a “arte negra”, reflecte sobre a museologização dos objectos extraídos a uma cultura onde não há museus e, por consequência, sobre as relações de poder – económico, político e simbólico – entre a cultura europeia e as culturas africanas, sob a organização colonial. (...) Em As estátuas também morrem, o ânimo da cultura africana é o rosto da morte do imperialismo europeu: donde, as imagens das estátuas neoclássicas, corroídas pela chuva e pelos ventos, no início do filme. Mas também da morte e de como o labor das formas inteligentes lhe faz frente. “O povo das estátuas é mortal” e, um dia, também elas se decompõem. Retenhamos o lamento cravado no coração da Europa do século XX e que este filme nos repete: “Um objecto está morto quando o olhar vivo que pousava sobre ele, desapareceu. E quando nós desaparecermos, os nosso objectos irão para onde nós enviamos os dos negros: para o museu.” João Sousa Cardoso
 



Ficha dos filme:
Título em português: As Estátuas Também Morrem
Título Original: Les Statues Meurent Aussi
Realização: Chris Marker e Alain Resnais
Ano: 1953
Argumento: Chris Marker
Fotografia: Ghislain Cloquet
Música: Guy Bernard
Voz: Jean Négroni
Género: documentário
Origem: França
Duração: 30 min
Cor: P/B

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