sábado, 8 de agosto de 2015

Pesquisa, história e memória institucional

O tema da história e da memória institucionais costuma vir muito à baila nas minhas aulas do curso de graduação em museologia. Além de ser um tema inevitável, tanto do ponto de vista teórico/ metodológico quanto prático, uma vez que os museus, centros culturais e demais instituições do campo da cultura e do patrimônio costumam produzir suas narrativas institucionais, ou as de órgãos correlatos por encomenda. Fora o fato de que há muitas empresas privadas que também se ocupam de criar espaços destinados a promover sua história e memória institucionais. Por ter trabalhado 8 anos à frente do Setor de Pesquisa de um museu público, em que várias situações desse tipo se apresentaram, creio ter adquirido alguma experiência e tenho um bom número de "casos" que costumo abordar com @s alun@s. O mais delicado e problemático momento talvez nem seja o de realizar a pesquisa em si, mas quando se chega ao ponto de torná-la pública, ou seja, quando se realiza a exposição, o catálogo ou outra forma de comunicação dos resultados. A independência do pesquisador, essencial para a boa realização desse tipo de trabalho, nem sempre é assegurada. Caminhamos no fio da navalha e lamentavelmente muitas vezes os dirigentes não são capazes de compreender o valor da crítica consequente para a construção da própria instituição. Resguardada a dimensão ética da qual nunca se deve abrir mão, necessariamente recairá sobre os profissionais envolvidos o dilema e a tarefa de negociar textos, acervo, narrativas, sempre em prol de comunicar com a maior fidelidade possível aquilo que foi investigado. Em última instância reside no próprio cérebro do pesquisador o bastião último daquele conhecimento, que se não vier à tona num dado momento, poderá reaparecer em outro.

Esse trecho da entrevista do sociólogo Howard Becker ao jornal portenho La Nación, revela com argúcia como deve ser a postura do pesquisador num contexto como esse:

"Todas as organizações têm uma história, um relato sobre si mesmas que enfatiza o que seus donos ou administradores pensam que essas organizações têm de “bom”, e tentam minimizar o que poderia ser criticado. Para eles, é uma questão de relações públicas, de minimizar as aparências. De modo que se alguém faz uma pesquisa séria, inquisitiva, certamente vai encontrar essas coisas criticáveis e vai incluí-las em sua compreensão dessa organização. Vão te dizer coisas como: “Você não precisa se preocupar com isso”, seja lá o que for. Sempre soube que cada vez que o líder de uma organização me disse que algo não era importante e que não precisava me preocupar com aquilo, bem, era exatamente naquilo que devia prestar atenção. Uma intuição que sempre se provou correta."

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/livros/aos-87-anos-sociologo-americano-howard-becker-defende-estudos-sobre-entretenimento-17116836#ixzz3iHN5zDJU
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